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sábado, 26 de julho de 2008

LIVROS - PEDAGOGIA DO OPRIMIDO


Pedagogia do Oprimido – Paulo Freire
Editora Paz e Terra

Paulo Freire parte do seguinte princípio em seu livro: a pedagogia dominante é a pedagogia das classes dominantes e, portanto, é contraditório que esta leve os oprimidos a romperem com seu atual estado. É preciso que os próprios oprimidos tenham consciência de seu estado e lute para sair da mesma, mas para isto é preciso que ele perca o medo da liberdade.

O que o autor do ensaio notou em sua experiência de vida é que os oprimidos apresentavam um “medo” da liberdade, pois foi inserido neles que o “pensar” leva à desordem, que leva ao castigo. Mas o “pensar” que leva à liberdade não os levará ao fanatismo e sim ao seu posicionamento no mundo. O oprimido deve aprender a escrever sua própria vida, ter noção de sua própria história e daqueles que o cercam, é aprender qual o poder da palavra e como ela pode ser geradora ou destruidora, dependendo do seu contexto e modo de uso. E essa nova forma de pedagogia, em que o oprimido toma gosto pelo aprendizado e aprende também a buscar sempre coisas novas, é atacada pelos “métodos tradicionais”, simplesmente porque vão contra a liberdade das classes dominantes.

Não somente a classe dominante é contra um novo método como também os oprimidos que se acomodaram em sua atual situação (e não querem partir numa busca de liberdade que pode eliminar todo seu mundo como conhece) e os oprimidos que agem como opressores com outros subordinados. É o processo da aderência, em que oprimido imita o opressor, imita para sentir o estilo de vida do mesmo que considera o ter mais imporante que o ser. E quando há ameaça de se retirar a sombra do opressor de dentro do oprimido, ele sente medo porque surge um vazio em seu interior, vazio que deve ser preenchido pela liberdade, que é algo que deve ser conquistado a todo momento.

A pedagogia atual, de acordo com o autor, é a pedagogia bancária, ou seja, a educação é doada de quem tem “mais” para o que tem “menos”, doação esta que reflete ainda mais o estado de opressão que o sistema exibe. É a pedagogia em que é aplicado certas táticas, como a conquista, seja a força ou via generosiodades, pela divisão, invasão cultural, etc.

A pedagogia sugerida por Freire segue o modelo antropológico, a história humana, ou seja, algo obtido pela conquista e que acaba criando sua própria forma. Ela não cresce naturalmente, deve ser sempre atualizada. É a pedagogia em que tanto o educando como o educador aprendem, é onde cada um busca o ser mais, busca a humanização, tanto dos oprimidos quanto dos opressores, num processo de diálogo em que as palavras levam à superação, para a discussão de temas geradores e para o pensar do povo. Para haver desenvolvimento, é preciso que haja movimento de busca, de criatividade, tanto de forma física quanto consciente.

A libertação do homem deve ser feita com os homens e não pelos homens. Este é um outro ponto em que Freire aponta e tenta fazer brotar em seus educandos. Seu ensaio, apesar disso, não é de fácil leitura, pois utiliza um vocabulário que é de conhecimento maior por parte dos profissionais da área. Em parte, ele utiliza-se de uma pedagogia “bancária” via texto, pois transmite seu conhecimento sem permitir o diálogo, mas tal forma seria impossível via livro. Mas não seria este um modelo copiado pelo pedagogos, numa falta de criatividade também para transmitir o conhecimento?

Hoje em dia a forma de educação buca novos modelos, mas isso mais por questão de direcionamento de mercado do que por causa da liberdade do oprimido. A mudança está sendo feita de cima para baixo, e não o oposto, dado que continuamos com um novo modelo de pedagogia que ainda pertence aos opressores. Talvez o que Freire deseje ver na educação seja utópico demais, mas enquanto ainda houver uma semente brotando no meio das cinzas, ainda há esperança de novas linhas de pensamento para que os homens entendam a si mesmos e tudo que os cerca.

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