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domingo, 20 de julho de 2008

LIVROS - O MUNDO É PLANO

O Mundo é Plano – Uma Breve História do Século XXI: Thomas L. Friedman

Em “O Mundo é Plano”, Thomas Friedman explica as transformações ocorridas no final do século XX e início do XXI que resultaram no que ele chamou de “mundo achatado” de hoje. Entre essas transformações está a queda do muro de Berlin, ocorrida em 1989, que derrubou consigo o sistema de economia planificada e abriu o mercado dos países que antes viviam sob tutela soviética. Também nessa época foram lançados os primeiros computadores de uso pessoal com Windows, que tornava a interface mais amigável, levando os PCs para fora do universo dos acadêmicos e cientistas.

Isso tudo foi somente um passo. A abertura de capital da Netscape na bolsa de valores iniciou a bolha das empresas ponto.com, o que foi um salto: a internet alcançou sucesso, apoiado pelos softwares de fluxo de trabalho que permitia a comunicação entre diferentes plataformas desenvolvidas até então, e pelo código aberto que, à partir de um código base funcional (e grátis), qualquer um podia desenvolver seu próprio programa, melhorá-lo e diferenciá-lo dos demais para competir e vencer no mercado.

Friedman cita a Índia por diversas vezes no livro, pois é um dos países que melhor exemplifica o seu conceito de que o mundo se “achatou”, da abertura de sua economia e dos seus trabalhadores qualificados até a compra de fibras ópticas das falidas empresas ponto.com e toda sua terceirização de serviço que prestou e presta aos americanos durante e após o bug do milênio, sempre com salários mais baixos que os pagos nos EUA.

Isto é outra força que “achatou” o mundo, a terceirização, e a Índia é o melhor exemplo para isso. A China, outro país que é citado por diversas vezes pelo autor, atua em outra frente, o offshoring, que é a transferência de toda a linha de produção para outro país, somente para aproveitar os baixos salários (e trabalhadores qualificados) e outras vantagens competitivas. Entretanto, poucas vezes o autor explica sobre as diferentes realidades que exitem dentro desses países: na Índia há muita pobreza longe de sua vale do silício e na China muitos dos direitos aos trabalhadores são praticamente inexistentes.

É preciso observar também como esse “mundo plano” pode nos fazer ter crises de identidade, pois como cliente, queremos preços baratos e bons produtos, como trabalhadores desejamos ter bons salários e como empresa planejamos pagar menos ou ter menores custos com o empregado. Desta forma, é preciso encontrar um equilíbrio nessas balanças, o que nem sempre é feito.

Toda essa controvérsia entra nas cadeias de fornecimento também, outra força que “achatou” o mundo. As cadeias de fonecimento garantem que seu produto ou parte dele nunca falte nas lojas ou no mercado, otimizando as práticas de entrega e distribuição. Porém, como as empresas geralmente não querem, não desejam ou não podem cuidar de toda essa logística, entra em cena outras empresas, às vezes pequenas, que podem cuidar dessa fase do negócio, num processo de internalização, e com ela mais parceiros participam do processo e logo toda uma rede de informação passa a ser necessária. E, somando-se todas essas forças ao avanço constante da tecnologia, temos um dos fatores que causou a transformação do mundo em tão pouco tempo.

Os outros fatores, uma nova maneira de atuar no mercado e a entrada de uma enorme quantidade de mão de obra no mercado, graças a entrada de países como China e Índia, convergiram no século XXI, e aqueles que estavam ligados ao mundo corporativista foram os primeiros a perceber que a realidade à sua volta estava se transformando, e era bom que eles também acompanhassem essas transformações.

O mundo não era mais o mesmo: o conhecimento passou a ser acessível a qualquer um graças à internet, as empresas não sobreviviam mais sozinhas, precisavam de parceiros, países que temiam os efeitos das transformações protegiam-se como podiam enquanto aqueles que queriam a transformação lutavam para vencer as barreiras. O mundo encolheu, não se achatou, e o próprio Friedman afirma que o mundo não é plano. Encolheu a ponto dos sopros de países influentes regional ou mundialmente serem sentidos como um furação por qualquer indivíduo longe desses centros.

A recente publicação de charges com a figura de Maomé num país minúsculo como a Dinamarca provocou revoltas no Oriente Médio. Qualquer decisão dos EUA quanto a sua política afeta a política de tantos outros países. A idéia de retomada do programa nuclear iraniano apavora a Europa. Qualquer tropeço do Brasil freia o Mercosul. Toda essa interligação entre os diferentes países (e empresas também) leva à necessidade do entendimento e respeito dos fatores invisíveis, como religião, cultura, etc. Neste mundo globalizado, ou na globalização 3.0, como cita o autor, o indivíduo é que deve se questionar sobre como se encaixar nessa realidade. Transformações devem ocorrer de dentro para fora para que algo torne-se efetivamente ativo.

O autor explica bem todos as transformações, foca nos acontecimentos e tenta dar uma direção aos EUA neste novo contexto mundial, mas muitas vezes exagera no tom, quase que ignorando a verdadeira realidade dos países em desenvolvimento e as políticas dos órgãos mundiais. É um livro de um norte americano para norte americanos, mas que, neste mundo encolhido e não plano, orienta-nos dentro do cenário internacional.

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