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sexta-feira, 18 de julho de 2008

LIVRO - EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA DA LIBERDADE

Como podemos levar as pessoas a pensar sobre liberdade se estão imersos em opressão desde que elas se conhecem como gente? Como levá-las ao pensamento crítico para diferenciar entre a opressão severa, a opressão de boas relações das verdadeiras ações libertadoras? Paulo Freire sustenta a opinião que a educação é uma das formas mais viáveis para levar isso a todas as pessoas. Mas será realmente fácil esta tarefa?

Em seu livro, Educação como prática da liberdade, o pedagogo procura, como ocorrida em Pedagogia do Oprimido, explicar o Homem no mundo e com o mundo, como são suas relações com seu exterior e com outros indivíduos. Diferenciado dos outros animais, o Homem é um ser de relações e contatos, e assim sua influência e suas ações acabam por influenciar os outros que o cercam, levando a situações de prisão, opressão, ou libertação, descobrimento.

Muitos dos seus pontos de vista são inter relacionados com o livro de Erich Fromm, Medo à Liberdade, com a idéia de acomodamento ante a situação de opressão, pois, privado da liberdade, o indivíduo deixa de preocupar-se com muitas situações e com o medo de cometer erros por decisões erradas, decisões que seres livres devem tomar para seguir na vida, decisões que passam a ser tomadas pelos opressores, agora senhores de seus passos também. Ou, em outras palavras, como diz Joel Rufino dos Santos, o indivíduo, ao ter sua liberdade suprimida, coisifica-se, tendo seu ”destino” nas mãos de seus “senhores”. E, se nestes termos esta situação aparenta apenas com a relação escravo-senhor de engenho, camponês-senhor feudal, é preciso refletir (que o ser crítico deve ser capaz de fazer) sobre muitas outras relações que podemos ver nos dias de hoje: patrão-empregado, marido-esposa, filhos-pais, e perguntar a nós mesmos se estas relações também não nos privam da liberdade.

Por enxergar o antes, o agora e talvez o depois numa linha de tempo, o Homem, além de poder estudar sua própria história, também pode ver-se inserido nela, de perceber as transformações que ocorreram na sociedade e também como muitas mudanças não são totalmente compreendidas no momento, apenas após a consolidação das bases para que todo resultado pudesse ser visível. Desta forma, vemos que as transformações, em particular da sociedade brasileira (em que se baseia o ensaio de Freire), levam tempo para ocorrem, e muitas vezes são imperceptíveis. Entretanto, quando muitas “revoluções” causadas por “delinqüentes” começam a ocorrer, ou então muitas ações envolvendo “desordeiros” fazem-se sentir, nada mais são do que sinais de uma sociedade em trânsito, em uma mudança com o povo e não sobre ele. Mas será que isso aconteceu no Brasil?

Ocorre no Brasil que sua inexperiência democrática ou política, especialmente das camadas mais baixas, favorece o crescimento da opressão pela bondade: através de favores as camadas mais humildes cedem sua liberdade, acomodam-se desta forma e não criam uma consciência crítica capaz de retirá-lo desta posição, e esta situação prolonga-se desde a época colonial. Desta forma, as idéias de Paulo Freire para educar o povo de modo a torná-lo crítico vai contra muitos interesses da elite dominante, que prefere manter o atual status quo, impedindo que uma ação democrática, que só pode ocorrer com o consentimento do povo e com suas próprias mãos, possa ocorrer.

A educação deve ser prioridade para que cada indivíduo possa ser crítico e enxergue os problemas e as soluções para suas questões e as do povo, fazendo-o mudar de atitude frente à realidade que o cerca. A educação atual segue muito a repetição de modelos, ditando idéias sem discuti-las, trabalhando sobre o educando e não com ele, como muito enfatizado em Pedagogia do Oprimido.

Entretanto, mesmo com a conscientização da importância da educação, e mesmo consciente da importância da educação para formação do ser humano, fica a questão sobre a verdadeira liberdade que é-se alcançada através desta: não haverá influência, formatação do indivíduo através de pequenas sugestões, suprimindo-o da real liberdade para criação de sua própria observação do mundo? Mesmo com a explicação de sua técnica de ensino e como pode alfabetizar uma pessoa em pouco tempo de forma crítica, resta esta última questão.

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