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sexta-feira, 25 de julho de 2008

LIVROS - MEDO À LIBERDADE

Medo à Liberdade
Erich Fromm

Escrito durante a Segunda Guerra Mundial por Erich Fromm, numa tentativa de explicar como milhares de alemães seguiram sem contra argumentar os ideais de Hitler, o livro trás uma análise que acaba explicando muito mais que a simpatia do nazismo ao orgulho da raça ariana: explica todo um processo que culmina na dúvida sobre a existência da liberdade.

Mas o que vem a ser liberdade? De acordo com o dicionário, liberdade é a capacidade de cada um decidir-se ou agir segundo sua própria determinação, estado ou condição do homem livre, ou confiança, familiaridade, intimidade . Mas como saber que a nossa decisão ou ação é fruto de nossa determinação e não de algo implantado em nós durante um processo de moldagem feito por algum fator externo opressor? Como poder considerar livre uma pessoa se nem mesmo conseguimos definir com exatidão a extensão desta palavra? Se começarmos a questionar sobre o que acreditamos, nunca iremos duvidar disso, iremo-nos autoenganar dizendo não duvidar ou iremos nos convencer que há determinadas coisas que não tem explicações para ser?

Esse é o caminho que o livro Medo a Liberdade segue em seus primeiros passos, um mergulho profundo na psicologia para chegar a uma explicação a respeito não somente da Alemanha nazista, mas também para tantas outras situações que observamos no mundo. É um caminho que inicia com um retorno no tempo, em demonstrar que a relação entre os homens há muita é controlado pela renúncia à liberdade contra um “opressor” que protege e controla.

O autor começa pelo período medieval, a submissão do camponês ao senhor feudal em troca de proteção, a renúncia de sua liberdade pela segurança. O perigo externo não é algo que o camponês, isolado, possa resolver, nem tem condições para tal, e por isso cede sua liberdade para ser controlado, seja por impostos, seja por trabalhos que paguem sua estadia nas terras do senhor, em troca de proteção, de acomodação em um território que ele não precisa defender: isso passa a ser serviço de outra pessoa, com poderes para isso. Mas se esta situação pode funcionar como um mutualismo, em que um ajuda o outro a sobreviverem, é fina a divisão que leva à exploração. Os impostos pagos sobem, as obrigações, idem, enquanto o sentimento daqueles que cederam sua liberdade passa a ser o medo tanto das ameaças externas quanto as internas.

Diante desta situação, o que fazer? Reprimir os sentimentos devido ao perigo que há em expressá-las? Mas até que ponto o homem é capaz de fazer isso antes de explodir, antes de revoltar-se e questionar o opressor? Anos, décadas, gerações?
O fato é que nada difere essa troca de favores, em que um cede sua liberdade para um outro que pode auxiliar num fator carente ao primeiro, da posição entre patrões e empregados, trabalho por salário. Não é um medo à liberdade, as a necessidade de cedê-la para poder vivermos em sociedade. De nada adianta afirmar que o homem é anti-social: se esse fosse sua natureza primordial não haveria Adão e Eva, somente Adão ou somente Eva. Exclua-se os conceitos religiosos ou naturais, somente a mente humana é que procura a busca pela chamada liberdade. E por que ela faz isso? Porque sente-se oprimida a todo momento e sonha que é possível atingir a liberdade total, livre de qualquer influência. E talvez seja, neste contexto, a morte a liberdade mor?

O livro de Fromm não traz resposta a esta questão, bem como não responde a muitas outras questões levantadas. Porém, segue um caminho que explica, em parte, a submissão do povo alemão à ideologia de Hitler: um pensamento comum mas que não era exposto da forma que foi pois ninguém queria assumir a responsabilidade por aquela idéia, a de que judeus eram os responsáveis pela situação da Alemanha na pobreza e que a raça ariana era superior às outras. Cedido à liberdade, o sucesso ou o fracasso ficaria em mãos do líder, e por isso muitas das ações que o exército e povo realizavam, mesmo fora da natureza humana, em nada pesava na consciência deles: era algo “natural”, que devia ocorrer, como os predestinados de Calvino ou sobre algo que deveria ser assim por deus querer, como diria Lutero.

É o medo à liberdade, o medo da responsabilidade que faz com que o indivíduo ceda sua liberdade para outro. Se num momento a total confiança em outra pessoa é necessária, num outro é perder o controle dessa ação e perceber em que opressão começa a submeter-se. Mas há medo dela ou medo de que não consigamos nos auto enganar da sua existência?

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