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domingo, 30 de dezembro de 2007

Livros – Memórias de minhas putas tristes


O livro de Gabriel García Márquez, Memórias de minhas putas tristes, é narrado por um senhor que quer como presente de seu aniversário de noventa anos uma louca noite amorosa com uma adolescente virgem.

Não se trata da Lolita que seduz o velho senhor, ou mesmo o contrário. Na primeira vez que vi o título do livro, recordei-me que puta tem o sentido de criança no português de Portugal, e por alguma razão fiquei com isso na cabeça: o título não tem nada a ver com a história, o título não tem nada a ver com a história...

Mas é claro que têm. Primeiro, Márquez é colombiano, não português. Segundo, a ninfeta da história é realmente uma prostituta. Mas o que ainda fiquei em dúvida ao ler este livro: teria ela algum sentimento por aquele senhor?

Analisando os fatos, o modo como as coisas foram arranjadas para suprir o seu desejo de velho aniversariante, os favores, os presentes e as palavras de agradecimento ou contentamento que foram transmitidas por terceiros... tudo isso me fez duvidar se havia mesmo algum sentimento por parte dela... e também por parte dele.

O relacionamento entre as pessoas é baseado na convivência, na conversa, na intimidade. Como pode um relacionamento nascer entre duas pessoas que apenas se vêem adormecidas? Palavras começam a surgir na cabeça de cada um: ela deve ter feito isso por causa daquilo, ela está feliz porque fiz isso, ela está brava porque eu fiz aquilo.

Se não há interação, haverá relacionamento? É preciso que haja uma “troca”: palavras, olhares, sorrisos, ações.

Talvez eu tenha lido rápido demais durante a viagem entre BH e São Paulo, ainda mais durante a noite. Mas que fiquei com essa sensação de que havia coisas demais na cabeça do ancião, ah, isso havia...

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